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OS HORIZONTES ESTÃO CHEGANDO

 

OS HORIZONTES ESTÃO CHEGANDO

(Texto originalmente publicado no livro “Horizontes Arquitetura e Urbanismo I | Projetos de 2002 a 2017”, publicado em 2017 pelo LUA LAB Laboratório de Urbanismo Avançado e Nhamerica Plataforma)

Eduardo França. Arquiteto Urbanista. Mestre em produção e teoria do espaço. Professor Universitário. Sócio do escritório Estúdio Arquitetura

Curiosamente contraditória: essa me parece uma boa classificação para a atuação dos arquitetos e urbanistas que possuem escritório. Se, para que tal análise seja feita, é necessário um foco mais definido, faço tal afirmação considerando os profissionais brasileiros ao final do século XX e neste início do XXI.

Usualmente, as escolas de arquitetura - de maneira acertada, ouso opinar - buscam formar profissionais que, além do domínio de um determinado conjunto de técnicas relacionadas ao ofício, questionem constantemente a realidade do território que os circundam, a partir de um viés crítico, e busquem compreender paradigmas culturais em que nossa sociedade é forjada.

De um modo geral, a produção do espaço urbano brasileiro passa por conceitos muito conhecidos dos arquitetos e urbanistas, como especulação imobiliária, gentrificação ou equilíbrio ambiental.

Se o conhecimento de tais conceitos auxilia na construção de uma crítica embasada e contundente sobre cidades e suas dinâmicas, por outro lado leva à seguinte constatação: conceber e desenvolver projetos e planos de arquitetura e urbanismo é, por vezes, navegar em um mar revolto de contradições. Em outras palavras: como atender a um mercado que, via de regra, não disponibiliza à cidade e aos cidadãos a melhor arquitetura da qual estes podem usufruir?

A pergunta acima certamente ecoa na minha cabeça desde que montei o meu primeiro escritório, poucos semestres antes de formar. Nos idos de 2004, certamente éramos mais analógicos do que digitais, pelo menos no que dizia respeito à comunicação on line e just-in-time, e as redes sociais mostravam-se novidades que causavam em seus usuários uma espécie de deslumbramento tecnológico. Através destas, os usuários debatiam (menos) e apresentavam (mais): a si mesmos e aos seus trabalhos.

Na Belo Horizonte desta época, essa era uma efetiva forma de tomar contato com a produção arquitetônica de colegas que ainda não conhecíamos, e que eram amigos de amigos. Nesse sentido, acontece algo já comum na época: tomei contato com os arquitetos da Horizontes Arquitetura no campo virtual, antes que isso ocorresse pessoalmente. Neste momento, conhecer esta produção foi importante para o encontro de uma afinidade: como tantos outros arquitetos, Gabriel, Luiz Felipe e Marcelo pareciam direcionar o início da sua trajetória profissional a partir da diversidade de projetos.

Formados pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-MG, projetavam desde praças e parques a projetos institucionais e de habitação popular. Numa analogia com a Medicina, na Arquitetura costumamos chamar isso de clínica geral.

A demanda por trabalhar com escalas e tipos de projetos variados faz com que, naturalmente, as ideias sobre os mais distintos modos de uso e apropriação dos lugares projetados sejam ventiladas.

Em 2007, fui apresentado definitivamente aos arquitetos da Horizontes. Inicialmente, conheci o Gabriel Velloso, quando passamos juntos em um concurso para professores na Escola de Arquitetura da UFMG. A partir daí, as conversas sobre o tal mar de contradições inerente à produção de arquitetura se intensificou.

Considerando pertencermos a um mesmo grupo – o de arquitetos formados há poucos anos com um interesse em conjugar o trabalho em escritório ao da docência – as conversas logo fluíram. É fácil para mim elencar o que sempre considerei duas grandes qualidades do escritório, cada uma vinculada a um dos campos que entendo fundamentais na produção da Arquitetura: forma e conteúdo.

Por forma, classifico aquilo a que usualmente não se atribuía importância em escritórios de arquitetura, pelo menos até algumas décadas atrás: a maneira como se conduz essa entidade. Quem os conhece, sabe do profissionalismo e da seriedade com que conduzem a Horizontes. Na minha visão, sempre foi nítida a considerável preocupação não apenas com a qualidade dos projetos que concebem e desenvolvem, mas com a organização dos produtos que entregam, na busca de uma fuga do senso comum, que usualmente rotula os profissionais ligados à área da criação como desorganizados com processos e prazos, como se isso fosse justificativa para se imprimir criatividade em determinado trabalho.

Sobre o conteúdo, sempre me impressionou a maneira como lidam com a responsabilidade de produzir uma arquitetura do cotidiano. Sobre essa expressão – em itálico, de propósito - pode-se discorrer à exaustão. Isso porque, no meu entendimento, o conceito é cada vez mais urgente. Não raro verificamos os trabalhos de arquitetos corresponsáveis pela produção de equipamentos descontextualizados do meio urbano em que se inserem.

No contexto brasileiro, em que há uma série de questões sociais, econômicas e de infraestrutura inerentes ao desenvolvimento das cidades, desconsiderar o cotidiano leva, muitas vezes, à produção de projetos inexequíveis.

Para citar alguns exemplos pontuais, a ampliação do Colégio Arnaldo, o Pavilhão do Minas Tênis Clube e o Complexo Travessia exibem um rigor construtivo que não prescinde da importância de se retratar tais equipamentos com a importância institucional que possuem. O projeto do Vale dos Guedes e o Conjunto Santa Lúcia partem da demanda de se viabilizar conjuntos arquitetônicos em que o desenho urbano e a implantação sejam plenamente contextualizados com um entorno e uma topografa desafiadores.

Por fim, as creches Dom Bosco e Vila Esperança II são projetos representativos da necessidade de se imprimir dignidade às comunidades em que são inseridas, simplesmente por serem equipamentos arquitetônicos que contêm simultaneamente uma qualidade espacial interna, e uma articulação com as ruas para as quais se abrem, a partir de uma correta transição do espaço público para os espaços cobertos, internos aos equipamentos.

Desse modo, é inspirador ver um escritório com uma produção que se torna cada vez mais madura, pautado pela produção que busque atender aos usuários, habitantes e cidadãos (para usar termos caros aos arquitetos), ao invés de rechaçar estes, os reais usufruidores dos equipamentos projetados.

No escritório do qual faço parte, temos o costume de chamar os arquitetos de outros escritórios pelo nome da entidade que representam. Não raro, comento com a Letícia - parceira na profissão e na vida - sobre algum problema de projeto: “vamos ligar para os Horizontes, talvez eles possam nos ajudar”.