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Educar pelo exemplo

 

Fernando Luiz Lara 
Professor da Universidade do Texas e consultor do escritório Horizontes Arquitetura e Urbanismo, empresa associada ao GEMARQ (Grupo de empresas Mineiras de Arquitetura e Urbanismo).

Texto publicado no Jornal Estado de Minas, Caderno Principal, coluna Opinião, 22/04/2012
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É louvável a iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte de lançar um processo de Certificação e Sustentabilidade Ambiental (CSABH). O certificado a ser administrado por uma empresa externa à PBH servirá para validar publicamente obras novas ou reformas que alcançarem certos parâmetros de sustentabilidade: redução do gasto de energia, reciclagem de materiais, reciclagem de água de chuva, etc....

Sem conhecer os parâmetros a serem mensurados fica difícil entender o quanto vale este certificado e qual seu impacto. Será incluído por exemplo o cálculo de energia embutida (vidro e alumínio são materiais que gastam uma enorme quantidade de energia na sua fabricação por exemplo) ou o cálculo de energia gasta no transporte (cerâmica que roda 2,000 km em caminhão tem um impacto ambiental muito maior do que as fabricadas perto da obra).

Mas uma coisa é certa. Assim como a certificação LEED nos EUA ou BREAM na Inglaterra os processos e certificação acabam sendo apropriados como ferramenta de marketing na medida em que importa menos avaliar efetivamente a performance de cada edifício e sim cumprir com os requerimentos do processo em si. O LEED por exemplo exige que os edifícios tenham estacionamento de bicicletas mas de que adianta se a cidade não tem ciclovias?

Mais importante ainda é perceber que a maioria dos parâmetros de sustentabilidade são supra-municipais, extrapolando a jurisdição da Prefeitura de Belo Horizonte. A Cemig por exemplo vai criar um incentivo para geração de energia solar por parte de cada consumidor? A Copasa vai premiar condomínios (verticais ou horizontais) que reciclem água do chuveiros e piscinas por exemplo (baixo grau de contaminação) para molhar plantas e lavar calçadas?

Sozinha neste emaranhado de diferentes jurisdições e diferentes relações entre interesses públicos e privados não há muito que uma prefeitura possa fazer além de premiar boas práticas. Mas a prefeitura pode sim dar o exemplo com suas próprias obras e na gestão da parte da cidade que lhe compete. Nas ruas, praças, calçadas e edifícios públicos está a oportunidade de educar pelo exemplo.

Se todo ano a chuva alaga parte da cidade e causa todo tipo de prejuízo, porque não começar pela gestão das águas? Pensar os espaços públicos em relação aos ciclos das águas é condição fundamental de sustentabilidade. A consequência vai muito além de simplesmente evitar as enchentes. Uma maior infiltração de água implica recarregamento do lençol freático e estabilidade do subsolo. Implica também em maior evaporação depois da chuva, com consequente diminuição do efeito ilha de calor.

Que tal se a Prefeitura de Belo Horizonte educasse pelo exemplo para mostrar nas ruas e praças da cidade como pavimentações com variados graus de permeabilidade (dependendo das demandas de tráfego de automóveis e de pedestres) contribuem para um meio ambiente mais saudável.

Certificação é um passo importante mas mais urgente é entender que nem tudo se resolve com mais cimento e mais asfalto. O que realmente interessa é o uso racional e prudente dos recursos naturais com vistas ao bem estar da população atual e das gerações futuras.