VALORIZAÇÃO DA ARQUITETURA PARA CIDADES MELHORES
A Valorização da Arquitetura e do Urbanismo para a implementação de cidades melhores
(Texto originalmente publicado no livro “Horizontes Arquitetura e Urbanismo I | Projetos de 2002 a 2017”, publicado em 2017 pelo LUA LAB Laboratório de Urbanismo Avançado e Nhamerica Plataform)
Vera Maria N. Carneiro M. de Araújo - Presidente do CAU/MG 2015-2017
Julio César De Marco - Vice-Presidente do CAU/MG 2015-2017
Aos leitores,
A maior invenção da humanidade é a cidade. Ela propiciou que houvesse o encontro entre as pessoas e, a partir desse encontro, que houvesse a difusão das ideias, o que permitiu que a humanidade se desenvolvesse numa rapidez como nunca antes percebida nas sociedades anteriores baseadas em modo de vidas rurais, agrários, etc.
Quando nos referimos à cidade, estamos tratando daqueles elementos que a caracterizam e que criam e fortalecem diferentes níveis de influência e de interação. Prédios públicos e particulares sempre existiram em sociedades não urbanas, elementos determinantes na caracterização do espaço urbano, muitas vezes ajudando a defini-lo e a caracterizá-lo. Entre os prédios há uma rede de espaços públicos que estabelecem conexões e criam novas relações entre os espaços, entre as atividades que nele se realizam e entre as pessoas que deles se utilizam - é esta nova relação entre prédios, espaços e atividades, com estabelecimento de escalas de uso e de poder, interdependências, atração e repulsa, centralidades, direções e fluxos, etc., que faz com que surja o efeito da existência de uma vida citadina, que seus habitantes e fruidores percebem como uma unidade, uma cidade.
São estes espaços públicos que criam a identidade das cidades e moldam os laços comunitários entre seus habitantes. É a diversidade do uso deles que permite que as trocas e as relações humanas se deem, que se criem as vocações locacionais e que aflorem os conflitos e contradições da sociedade. A sociedade molda a construção de seus lugares que estão impregnados de suas dicotomias criativas e destrutivas internas, sendo assim a cidade um espaço artificial e de conflito.
Este espaço é o objeto de trabalho do arquiteto e urbanista - as edificações, o seu conjunto, os espaços livres e as relações todos esses elementos caracterizam a Arquitetura e Urbanismo. Por essa razão, o investimento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais – CAU/MG – na divulgação e na valorização das discussões destes elementos, julgando-as essenciais para estimular produções e reflexões de qualidade sobre o espaço urbano e a prática profissional.
Com o Edital de Apoio Institucional, o Conselho pretende fomentar o debate e a divulgação da produção arquitetônica e urbanística de Minas Gerais, como a produção desta obra, ora apresentada sob a forma desta publicação, incentivando o desenvolvimento de cidades sustentáveis, assim como a gestão e a ocupação democrática destes espaços com a maior interação entre o profissional criador e os cidadãos/usuários.
A prática do arquiteto e urbanista deve estar vinculada à proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico, pois sua formação o distingue dos demais profissionais exatamente pelo aprendizado e pela lida com esses diferentes temas.
A busca pelo envolvimento de profissional devidamente habilitado no planejamento e na construção da cidade é questão essencial para a atuação do CAU, desde sua criação com a Lei Federal 12.378, de 31 de dezembro de 2010. E é, também, garantia de segurança para a sociedade, para a constante construção de cidades cada vez mais inclusivas, coesas, agradáveis e capazes de abrigar desde atividades rotineiras de sua população a manifestações culturais de grande expressão para a humanidade.
Trazendo essas premissas para o âmbito de nosso estado, ainda não são todos os municípios mineiros que contam com a presença de arquitetos e urbanistas, por essa razão, fomenta-se a interiorização, entendendo ser a valorização da Arquitetura e Urbanismo motivadores para a ampliação de investimentos em campanhas e ações junto ao Poder Público e à sociedade, com a realização de ações compreendendo palestras, seminários, ciclos de debates, vídeos, e publicações cujo objetivo seja conscientizar sobre a importância e responsabilidade do tratamento a ser dado a cada edificação e a relação delas com os espaços públicos, ou seja, ressaltar as dinâmicas construtivas e espaciais na cidade.
Com isso, é preciso, em primeiro lugar, que os arquitetos e urbanistas assumam seus papéis de protagonistas de gestão deste processo e o desafio de se planejar, cada vez mais, edificações e espaços que impliquem na reafirmação da cidade como espaço para todos, projetada sob padrões desenho universal, mais energeticamente eficientes, que contribuam para a redução da formação de ilhas de calor e das mudanças climáticas, enfatizando a utilização da infraestrutura ecossistêmica, colocando seus cidadãos, em todos os segmentos de idade, gênero, capacidade física e mental, classe social, etc., como foco prioritário no planejamento e desenho urbano, com estabelecimento de estratégias que ofereçam a eles boas experiências e que atendam às suas necessidades. É necessário que os arquitetos e urbanistas tomem os espaços públicos para fazer deles espaços que sejam cada vez mais democráticos no espelhamento e no atendimento dessas diversidades e necessidades e criem espaços nos quais essa sociedade possa, cada vez mais, ocupar, se expressar, se discutir e reivindicar, para que a cidade seja, de fato, o que se espera dela - inclusiva, dinâmica, resiliente e sustentável.
Aos estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo fica, também, o convite de participar desses debates, para que estejam aptos a tomar seus lugares no mercado de trabalho e a projetar e implementar a criação de edifícios mais sustentáveis e de cidades mais cidadãs e melhores.