ANEXO DO MAP
No inicio dos anos 40, na primeira metade do século XX, o passeio de Niemeyer e JK pela margem desocupada da lagoa da Pampulha mudaria a imagem de Belo Horizonte, Minas Gerais e do Brasil para sempre. A partir deste encontro Kubitschek concebeu e Niemeyer projetou o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, que foi construído em 1942 e em 2016 foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.
O edifício do Cassino, atual MAP-Museu de Arte da Pampulha, faz parte do conjunto da Pampulha, juntamente com a Casa do Baile, o Iate Clube, a Igreja de São Francisco e um hotel que não chegou a ser construído. O funcionamento do edifício como Cassino foi interrompido em 1946, quando foram proibidos os jogos de azar no Brasil. O prédio ficou sem uso até 1957, quando foi transformado no MAP.
Embora o edifício do MAP/Cassino tenha passado por uma série de reformas ao longo de sua história, ele ainda carece de obras de restauração e adaptações para melhor funcionamento como museu.
Entre 2012 e 2014 a Horizontes Arquitetura desenvolveu um projeto completo de restauração para o MAP/Cassino, que terá obras iniciadas em breve. Mas, mesmo após estas reformas, o MAP não oferecerá condições adequadas para guarda e exposição de obras de arte. Seus grandes salões envidraçados não oferecem controle de luz, umidade e calor. Sua reserva técnica, adaptada no 'subsolo', é tecnicamente inadequada e não tem espaço suficiente para todo o acervo.
Para pleno funcionamento como museu, o MAP depende da criação de um espaço de apoio, um Anexo, que ofereça espaços e condições necessárias para funcionamento de um museu moderno. Para atender a esta demanda, a Horizontes Arquitetura desenvolveu o projeto do Anexo do MAP, a pedido da prefeitura de Belo Horizonte, tendo o MAP e a Fundação Municipal de Cultura como clientes finais.
Uma das principais premissas para o projeto do Anexo era atender às demandas dos grandes museus estrangeiros, que exigem condições rigorosas de conservação e segurança para permitir o envio de seus acervos para exposições temporárias. O projeto do Anexo foi planejado de acordo com estes princípios, possibilitando que o novo edifício possa receber o acervo permanente do MAP, além de obras consagradas de artistas estrangeiros, viabilizando a inclusão de Belo Horizonte no circuito das principais exposições internacionais.
O terreno para construção do Anexo localiza-se em frente ao Museu de Arte da Pampulha, na orla da Lagoa da Pampulha. Ele pertence à Prefeitura de Belo Horizonte e encontra-se desocupado e sem uso, salvo esporádicas intervenções de arte e eventos do MAP.
Uma grande dificuldade para o projeto foi imposta pela legislação municipal que restringe a altura do edifício, devido à proximidade com o aeroporto da Pampulha, e limita a profundidade de sub-solos, devido à proximidade com a lagoa e lençol freático. Além disso, o terreno era muito pequeno para um programa de necessidades extenso, que previa: sala de exposição, laboratórios de pesquisa e restauração, reservas técnicas para esculturas, pinturas e papeis (com previsão de ampliação do acervo), centro de documentação, administração, oficinas de montagem, foyer e espaços de apoio (cafeteria, loja, sanitários públicos e vestiário de funcionários).
Estas restrições, aliadas à imposição de poucas aberturas (de forma a garantir proteção contra radiação solar, umidade e controle de temperatura), direcionaram a uma volumetria sólida e compacta. O Anexo surgiu então de volumes prismáticos fechados, cuja unidade simbólica é dada pelo brise da fachada frontal, voltado para a avenida e para o Cassino/MAP.
O acabamento em brises horizontais tem função de sombrear os grandes painéis de vedação (diminuindo a temperatura interna do edifício), além de função compositiva. Rasgos aleatórios nos brises emolduram ‘janelas’ com visadas para o MAP, e contribuem para aparência de movimento e leveza do edifício.
Para diminuir a sensação de ‘peso’ do volume foram criados espaços ‘vazios’ de uso público, estrategicamente posicionados entre os volumes do prédio. O terraço, localizado na cobertura do prédio, poderá receber exposições ao ar livre e eventos como coquetéis e lançamentos de exposição, aproveitando da privilegiada vista para a lagoa. O pilotis, com cafeteria, tem acesso independente e é aberto direto para a rua, também com vista para lagoa e Cassino/MAP. Um anfiteatro, localizado na rua lateral, permite o uso para eventos do MAP, ao mesmo tempo que estimula a apropriação pela população.
Os volumes dos fundos terão estética sóbria. Serão construídos em alvenaria e revestidos por telhas zipadas industriais cor cinza neutro, garantindo total isolamento térmico e proteção contra umidade nas reservas técnicas e laboratórios.
O bloco principal será revestido em granito verde bruto, com paginação vertical de 50cm, repetindo a paginação das janelas e pedras da fachada do Cassino/MAP. A cor verde-azulado da fachada é inspirada nas pinturas de Guignard e sua estratégia clássica de pintar a paisagem no pano de fundo de uma obra se fundido com o céu e se tornando azulada à medida que se aproxima do horizonte.
A ideia é que o Anexo, visto de longe, se mimetize com a paisagem, servindo de pano de fundo para que o Cassino/MAP continue dominando a cena. Enquanto os edifícios originais do conjunto da Pampulha foram dispostos em posição de destaque na paisagem, o Anexo do MAP se faz discreto e silencioso por fora, em reverência a seus nobres vizinhos. Discrição importante para um museu, pois o destaque deve estar nas obras de arte.
Ao mesmo tempo, o novo Museu revela sua identidade única e marcante, quanto mais se aproxima pela Avenida. O uso de formas angulares e materiais contemporâneos darão ao Anexo uma linguagem contemporânea e identidade própria.
Fora as dificuldades técnicas, o maior desafio ao projetar o anexo para o MAP foi pensar um edifício que fosse uma homenagem a Niemeyer e ao conjunto moderno da Pampulha. O projeto do Anexo se inspirou em algumas referências marcantes das obras de Niemeyer como: liberdade estrutural, brises e, principalmente, rampas escultóricas.
No Cassino, Niemeyer desenhou a rampa como elemento central, um espaço de movimento onde nas suas palavras “a burguesia se exibe elegantemente”. A rampa, inserida perpendicular ao eixo de entrada, coloca o Cassino um grau acima da Villa Savoye de Corbusier que lhe serve de precedente. No Anexo, a rampa, colocada paralelamente ao volume principal, diminui o impacto da massa do novo edifício ao fazer com que o visitante percorra parte do terreno apreciando a vista da lagoa e do MAP/Casino.
O Anexo do MAP faz então uma homenagem ao Cassino ao mesmo tempo em que absorve as funções para as quais este edifício, paradigma da arquitetura moderna, não está preparado: grandes exposições com luminosidade e opacidade controladas. O grande salão de exposição terá mais de 90m lineares de paredes 'cegas' para exposição, além de pé direito de 5,4m.
O Cassino/MAP ficará então liberado para servir de espaço para eventos (sua função original) e instalações de arte contemporânea (que não exigem controle de temperatura, umidade e radiação solar). Enquanto isso, o Anexo do MAP assumirá o papel de maior museu público de Belo Horizonte e passará a receber exposições do acervo e grandes exposições internacionais.
Anexo do MAP - Projeto: Horizontes Arquitetura e Urbanismo (Gabriel Velloso da Rocha Pereira, Luiz Felipe de Farias e Marcelo Palhares Santiago) e Fernando Lara. Desenvolvimento Arquitetônico: Horizontes e Ø Arquitetos (Filipe Pederneiras, Haiko Cirne e Thiago Bandeira).
Colaboradores: Carolina Eboli, Iris Dias Resende , Isabela Ziviane, Larissa Nunes, Lorena Coscarelli, Mateus Castilho, Natália Freitas, Nina Apparicio, Rita de Cássia Jácome e Silvia Guastaferro. Estagiários: Dayane Coelho, Laila Faria, Maria Del Rocio Gonzalez Ferraez, Natália Oliveira e Waleska Campos Rabelo. Imagens: Lucas Silva